terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Paris, 13/12/1965

Prezado Aischylos,

Talvez eu pudesse recontar a história de Deus e reviver as suas ações, guiando às suas ãos a explorar aquilo que consider arte. Neste caso eu teria a autonomia de e a patente de “Mestre do Grande Arquiteto”. Nossos sonhos são armas; são ferramentas; são forças capazes de destronar o “Deus Omisso”. Minha Idéia ganha reforço com um proverbio de Tchecóv. Diz ele: “ O homem é o que ele acredita.” Zenzatara afirma: “ A sua realidade é a realidade que você cria.” Criar nossas próprias realidades é tomar por consciência nossas próprias verdades. Deixemo-nos guiar pelos nossos instintos e não por aqueles que designam caminhos já traçados. Amigo Aischylos, antes de falar sobre o meu estado emocional perante a sua ultima carta enviada, gostaria de enfocar um tema que sera útil para ambos. “As chaves do poder.” Vejamos agora às constantes mudanças do seu cargo. Nos Tempos Primitivos, poder era simplesmente uma questão de fisiologia. Na Era Industrial, o capital era o poder. Hoje, uma das maiores fontes de poder é derivado do conhecimento especializado. O poder é o resultado mais sincere da nossa auto-segurança. Disse-nos Shakespeare: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que sempre poderiamos ganhar, por medo de tentar.” Ir de encontro aos riscos é uma das maiores caracteristicas do poderoso. Para o ilustre Henry Ford, “não devemos ir a procura dos defeitos, mas sim a procura das soluções.”
Achei conveniente tambéme expor um retrato mais nitido das coisas que consider ser as chaves de tal virtude.
Decálogo do Poder
1- Como primeiro artigo do decálogo das chaves do poder, a necessidade de uma visão periferica das coisas é um dos instrumentos de maior responsábilidade que temos.
2- A segunda colocação diz respeito a não precisarmos viver na ilusão de entender tudo para sermos capazes de usarmos tudo.
3- As pessoas são os nossos maiores recursos.
4- Sem confiança não há sucesso permanente.
5- Tudo acontece por uma razão e um fim e isso nos serve.
6- A compaixão aniquila a ideia e a vontade de potencia.
7- Acreditarmos que somos maiores que as nossas próprias vozes, nos torna seres superiors.
8- Descobrir às paixões, anseios e medos das pessoas, nos fazem arquitetos do vosso future.
9- A arte do teatro torna o nosso discursso mais interessante.
10- Beber exaustivamente nas fontes do conhecimento. Pois o conhecimento é o nosso maior poder.
Meu nobre amigo, quantas divergencias entre nós surgiram ao longo deste ano que em breve se encerra. Devemos agradecer a todas elas pois assim fortalecemos todas as nossas ideias. Incluindo aquelas que estavam somente a espera de um ativador. Desculpe-me por ter dado tanta ênfase ao poder. O meu próposito é te fazer entender o porquê das minhas ações. Gostaria de saber como andam os teus planos, em que terras pretendes habitar teus sonhos? Essa noite fui tomado por recordações da nossa juventude. Quantas aspirações aprisionavamos em nossos corações. Éramos, sem dúvidas, os mais loucos da nossa geração. Creio que levarei esta saudade ao túmulo.
Ainda não tive a sorte de reencontrar a Hecáte em meu caminho. Entristeço-me em saber que, quanto mais eu a procure, mais distante ela se posiciona. Serão desencontros naturais da vida, ou simplesmente há um não querer da parte dela? Me pareçe que eu perdi o amor de tal criatura! Se for mesmo isto… por favor, ajude-me a recuperá-lo.
Ontem fui convidado para compor um dispositivo de homenagem à Louraine, fiquei muito emocionado, como já era de se esperar. Obrigado por ter cuidado tão bem daquela que marcou intensamente as nossas vidas.

Valentine Lencastre

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Carta a Valentine

VII

Há quanto tempo... Até que enfim chegou sua tão esperada carta! Aconteceu tanta coisa, desde que te pedi que me escrevesses, que temo ser demasiadamente chato ao descrever-te tudo... e digo “tudo” porque tu és o único amigo com quem tenho a completa liberdade de revelar minha vida, meus segredos, meus temores... como a um Diário. Eu, em Leipzig, não tenho outra coisa a fazer a não ser me entediar... Os dias aqui seguem sempre tristes e vazios... tal como tudo que escrevo... e, por enquanto, as coisas que me têm inspirado algum alento aqui são os Saraus [em que as pessoas apreciam algo digno dos mais fervorosos aplausos, mas... que, infelizmente, mal fazem idéia do que seja] e a esperança nutrida pelo amor e o otimismo de tua saudosa irmã. Então... meu Diário... como posso começar a te descrever meus tediosos dias? Tenho tanta coisa para escrever que certamente daria uma Bíblia inteira! Pois bem, comecemos pelo Gênesis... assim teremos coragem e disposição até, finalmente, chegarmos ao Apocalipse – um sinônimo adequado que os tristes têm para um fim homérico e dantesco. Reencontrei Hécate, sim... e vejo que as notícias correm pelas estradas do meu ilustre País... Hécate havia ido ao Sarau e lá declamou um maravilhoso poema de Byron, a saber, Beppo... e tão maravilhosamente declamou o tal poema que o público, extasiado, manteve-se, por alguns momentos, em absoluto silêncio... como se visse a própria imagem do Autor à sua frente, até explodir em uma salva de palmas. Hécate é deveras uma criatura fenomenal... mas, ontem, durante a sua apresentação no Sarau, eu não a aplaudi... até porque estava completamente envolto por idéias sem fundamento... aflorava-me à cabeça várias coisas das quais nem uma se aproveitava... de modo que via a nossa amável Hécate declamar, mas não ouvia o som que lhe saía da boca; e apenas soube que era Byron o motivo daquela explosão final, porque no início ouvira dizer que seria Beppo o poema que ela haveria de recitar. Ao fim do Sarau, ela ao longe me saudou e se aproximou a fim de perguntar a minha opinião sobre seu recital.... fiquei extremamente constrangido e lhe contei a verdade: disse-lhe que não ouvi palavra alguma, mas que seu recital causou entusiasmo em pessoas honradas no que diz respeito às Artes no recinto e que, por isso, julgava ser bom o que ela nos apresentou aquele dia. Aquela semana, eu havia passado por muitas aflições na alma – o que ocasionou este tipo incomum de distração; mas... surpreendentemente, Aglaia, uma exímia soprano, que me conhecera num Teatro há algum tempo, findou aquela minha vergonhosa situação em um único... abraço. Vê só, amigo... este mero gesto, aparentemente gentil e cortês, foi o cabo de uma angústia profunda e contínua! Céus! – pensei – Que milagre extraordinário pode efetuar em nós um simples cumprimento! E desde então não paro de pensar nisto... Não digo que estou apaixonado, mas encabulado... porque este modo de expressar sua admiração deu a entender que éramos amigos íntimos... de fato, Aglaia é perfeita... é uma mulher por quem eu poderia facilmente morrer de amores... entretanto, a sua magnífica beleza cedeu aos encantos de sua alma... e já nem sei se devo procurá-la; porque receio que as minhas freqüentes angústias e este súbito encanto que nutro por ela seja fruto da falta que Lohraine me faz. Eu devo, afinal, esquecer isto tudo... em breve estarei longe daqui e sei que nossos caminhos seguirão destinos diferentes. Em contrapartida, sei que, enquanto este dia não vier, ainda nos encontraremos... afinal de contas, a cidade é pequena e, embora eu seja um sujeito misantropo, as pessoas sabem exatamente onde me encontrar. Ai, o Amor! Queres realmente que eu te diga alguma coisa sobre isto? Pois bem, meu caro... O Amor é algo abstrato, é algo que não se tem uma explicação exata, porque, assim como nós, a humanidade inteira, ainda que se ponha de acordo em alguns pontos, diverge [e muito!] sobre este assunto. Há três tipos de Amor [Ágape, Filos e Eros] e, pelo que vejo, tu pensas que, por ser Amor, estes três são iguais... há, sim, uma semelhança, mas não significa que sejam idênticos... em tua última carta mencionaste as palavras de Cristo em que ele discursa sobre o Amor [Ágape], que nada tem a ver com Eros... Sim, isto tudo está dentro de um único fundamento... já que o Apóstolo maior diz que devemos amar as mulheres como Cristo ama a sua Igreja, ou seja, dando a própria vida por ela; contudo, este Amor que se deve ter por uma criatura, não se deve igualar, tampouco sobrepujar ao que se tem pelo próprio Criador... nem ainda se deve perverter por ser ele mais “baixo”; pois, o mesmo Apóstolo que nos escreve esta máxima nos admoesta para o fato de “respeitar” e não “desejar” ou, para ser mais direto, “procurar” o bem enganoso que as mulheres proporcionam ao leito... Amor é respeito, amigo! Eis aí a causa substancial deste nosso embate amigável... O nome certo para este tipo de Amor que queres defender é, portanto, Luxúria. E por falar em luxúria, há uma rapariga que trabalha aqui próximo na casa dos Hofmann que de vez em quando me perturba com seus olhares dissimulados; sua reputação é questionável, mas os Hofmann mal sabem que víbora se instalou em seu requintado lar. Ela se chama Nadja; dizem as más línguas que ela sai à noite com os mais diversos homens e de dia faz pose de boa-moça... Ela anda a me perseguir e, com toda aquela voluptuosidade típica de mulheres de sua estirpe, tem gerado em mim uma inquietação, uma coisa... que me faz perder o sono... mas, não é Amor, asseguro-te... porque se assim fosse sentiria os sintomas evidentes de alguém cujo coração está queimando de amores, sentiria minhas mãos suarem e a minha alma se agitar a cada palavra sua... De qualquer forma, esta estranha vontade de possuí-la é o que tem diferenciado minha concepção de Amor [respeito] e Luxúria [desejo]. Agradeço-te pelo belo soneto que me enviaste... embora eu não o aprecie por ser parnasiano, não posso questionar a genialidade do Vate que o compôs. Podes crer que a nossa amizade não se deteriorará com os choques constantes destas nossas ínfimas divergências... como também no fato de que este nosso possível encontro não há de afetar minha vida profissional... em nada, absolutamente. Até mais ver, caro amigo... quando souber mais notícias de Hécate, entro em contato. Ela não se esquece de ti.

sábado, 17 de novembro de 2007

Carta a Aischylos

VI

Meu nobre amigo, só hoje me dei conta que a teoria da atração dos opostos faz sentido, pois em nosso caso é bastante marcante a sua presença. Sei das tuas preocupações, dos teus zelos perante mim. Sei também do perigo quanto a minha reputação. Estou certo que a tua intenção quanto à moralidade é preservar o pouco da imagem do homem exemplar que me resta. É uma atitude nobre da tua parte, mas deixa-me viver com esta sede de intensidade. Nunca tive vocação para cultuar o marasmo, tampouco a monotonia... O amor, o que mais posso dizer sobre essa força arrebatadora? Caro Aischylos, depois de toda essa defesa que fiz a favor da poligamia, estranho seria se eu viesse com as luzes da contradição, portanto, mantenho tudo o que eu disse, seguido de um reforço. Tu podes achar um tanto lúdico o que venho a dizer, mas, por favor, escuta-me amigo. Disse-nos o grande herói da humanidade: Só o amor é capaz de construir, amai a vossos inimigos sobre todas as coisas, amai a vossos irmãos como a vós mesmos, amai... amai... Ainda desconsidera a minha tese de que o amor tem que ser vivido em sua totalidade, em demasia? E diante de tanto poder meu amigo, de tanto bem que essa força nos oferece, de tantos alívios e glórias que ele nos fornece, não pode ele gozar de míseros valores de reconhecimento e gratidão? Para sermos justos com o amor, não podemos privá-lo de um direito que só a ele pertence! Quanto a minha relação com Lohraine meu caro irmão, prefiro não comentar, pois isto só irá aumentar a tua dor.Quanto às tuas visões meu amigo, ainda não acordei para aceitar estes fatos sobrenaturais, pois se para crer em um deus já foi um sacrifício, é comum que eu ainda tenha às minhas inclinações ao ceticismo. São muitos os casos em que me fazem dormir no berço da ciência. Esta tua visão de minha amada irmã me fez recordar um poema de Paul Marie Verlaine.

Never More

Que me quer,que me quer esta saudade? O outono
Fazia o tordo voar, no ar pesado de sono.
Já um sol sem calor, a tombar do áureo trono,
Mal aclarava o bosque em frígido abandono.

Íamos sós os dois, sonhando- o pensamento
E os cabelos ao léu, voando ao sabor do vento.
E eis que ela, a me fitar, num enternecimento,
Disse: “Qual foi na terra o teu melhor momento?”

Com a voz angelical de vibrações amenas,
Por única resposta eu lhe sorri apenas,
E beijei suas mãos brancas devotamente.

Os primeiros botões... Como são perfumados!
E que encantado som, que murmúrio atraente,
Tem o primeiro sim dos lábios bem-amados!

Em dezembro estarei indo a Eisenach para tornar físico mais um dos meus projetos. Gostaria de poder te ver, isso é, se estiveres próximo é claro, pois não quero que este nosso encontro seja um incômodo para a tua vida profissional. Meu amigo, fiquei sabendo por terceiros que tu reencontraste uma de nossas amigas de infância, por acaso essa pessoa não seria Hécate? Aguardo ansiosamente por tua resposta. “Que a nossa amizade nunca sinta o peso das diferenças!”.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Carta a Valentine

V

Viver... depois que perdi literalmente o sentido da palavra, Valentine, queres, insistentemente, que eu te explique o que é viver? Após estes fatídicos acontecimentos me perguntar sobre isso é como perguntar a um viajante perdido por que caminho agora ele deve seguir! Se me preocupo contigo, ou seja, com a tua reputação, isto não significa que questiono o teu estilo de vida... apenas não compreendo o fato de nutrires tão abundante amor que instigue tais cortesãs a não só gozarem dele, como a partilharem entre si o que nele há de mais puro! Se amar uma só mulher é, como dizes, uma lei nascida de podres ventres e de um instinto de conservação fugaz e falso, pretendo com ela assim morrer, amigo, enquanto não encontrar no mundo uma alma capaz de preencher este enorme vazio que Lohraine deixou... como vês, não há nada que me faça apartar desta minha santa e quiçá insana obstinação - algo que raramente vejo em ti। Ontem mesmo avistei Lohraine próximo ao parque Duvert; conversamos um pouco... ela me perguntou de ti... sua alma aparentava uma ligeira inquietude quando às vezes dizia o teu nome... não sei ainda dizer se é amor o que ela sente - não quero te dar esperanças -, mas é um mistério que provavelmente envolve uma certa afeição... talvez a distância ou quem sabe aquele sentimento de perda, aquele sentimento (egoísta) de possessão, típico de algumas mulheres, tenha aflorado repentinamente por estares na Corte, rodeado das mais ilustres beldades... em tudo isso, amigo, o que mais temo é que, devido às circunstâncias, ela perca de vez a confiança na sincera devoção que lhe revelas - escrevo não como um falso moralista, mas como um amigo que deseja recobrar na tua felicidade o sentido real daquilo que jamais te poderá explicar... Saudações cordiais.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Carta a Aischylos

IV

Eu não demoli os meus ideais e muito menos estou gozando da insanidade। Não construí templos nos terrenos da moral, pois não me interesso em dar-te alicerce. Quero somente gozar os meus instintos adormecidos. Carrego sim em mim o escrúpulo, como todos o carregam, mas confesso a ti, meu amigo, que ele não é bem vindo! Sou a favor da liberdade do espírito. Sejamos por obrigação seres autênticos, e não essas marionetes governadas e condenadas pelas leis nascidas de seus podres ventres. Entendo, Aischylos, que por instinto de conservação tu te entregas à dança dos seres fugazes, leves e falsos. Este não é um ensaio anárquico de mais um rebelde. São apenas algumas provas de minha exclusividade neste tempo onde a maioria segue as tendências da moda detratorial. Por favor, dá-me o teu conceito do que é viver, fundamenta todo o teu pensar à causa e me diz, o que tu representas neste exato momento. Este não é um discurso de ira, não pretendo cortar nenhum tipo de laço, apenas estou sendo claro ao apresentar alguns dos meus ideais. Como disseste, além de amigos somos irmãos. Sobre Lohraine, eu te respondo: assim como a Charlotte, ela também será lembrada pois suas marcas permanecem tatuadas em minha mente. Estou indo a Paris em julho e espero te encontrar por lá pois haverá um congresso mundial de arte e literatura que, tenho certeza, ser-te-á bastante útil, tanto pra ti quanto pra mim. Estarei assinando a arquitetura do evento com mais 3 profissionais, e quero o teu parecer sobre o meu trabalho, ficarei bastante grato com a tua presença. Desde já me despeço de ti com saudoso respeito, espero que tenhamos nos entendido. Au revoir.

Carta a Valentine

III

Uma fatalidade- é tudo que posso dizer!... Ela era para nós única... a expressão exata daquilo que chamamos Belo! Um ser irrepreensível que certamente, tem nos céus um lugar insigne! Meus versos- se há algum valor neles- celebrarão a sua excelsa figura; pois, tens razão, amigo: não é tempo de lamúrias- ela agora está segura nas mãos do Altíssimo, qual glorioso diadema- devemos sentir saudades! Nossas lágrimas- embora nos tragam algum refrigério-, ao invés de lhe regarem a alma com saudosos afetos, só a inundam de agônicos pesares! Deixemo-la em paz; assim também quer e deve ela nos ver... sempre। Seu martírio acabou quando ela suspirou em teus braços... onde ela achou lenitivo, onde encontrei meu amparo!... Eu sei, todavia, que neles agora repousa, infelizmente, uma criatura austera- de baixa reputação talvez-, cujo senso não é capaz sequer de avaliar o gozo inefável que sente, dando-te um mísero níquel por cada hora servida! Oh, isto não é viver, Valentine! Viver seria afogar no doce vinho a hostilidade daquela que te faz morrer, por não querer-te; mas, aí te inebriares nos contornos sutis de uma qualquer para tão-somente esqueceres a rispidez de tua amada! Não seria isto insano... e volúvel? Não quero provocar-te à ira, quero apenas te dar uma luz; pois, creio que este amor te inclina, cegamente, a um abismo escuro e sem fim- a única causa dos teus constantes pesadelos! Não penso que sejas frio, não; muito pelo contrário... penso o que sempre pensei de ti... que tu és meu amigo, que és meu irmão! Ver-nos-emos ? Quando? Bom é saber que levas contigo alguns regalos: tu bem sabes como me recobrar o ânimo... Tanto quanto me sabes deixar cem palavras!... Adeus, meu caro amigo! Que a distância não seja para nós um estorvo perene.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Carta a Aischylos

II

As pessoas sonham...eu tenho somente pesadelos। Há sete dias que a minha irmã partiu e, quando vou me deitar, também me recordo daquele semblante forte, sincero e confiável; mas... a dor que tu sentes é diferente da minha. Éramos ligados ao estremo- como num pacto a ser honrado. Éramos unidos até a alma. A causa de ela ter partido deriva de um cancro que a corroia silenciosamente até levá-la ao óbito. Ela era portadora de um câncer maligno. Meu estimado amigo, como já te disse uma vez: A morte não é o fim e sim uma passagem. Não guarde em teu peito o escárnio, pois, se a ama, entenda que ela se envergonharia de ti neste estado. Lohraine nunca se intimidou com os pensamentos submissos, ela era incapaz de suportar qualquer fraqueza. Eu sei que a falta está em cena neste exato momento, mas nem por isto devemos tornar de nossas vidas um martírio. Não deves te culpar por não teres concretizado a tua paixão. Ela também te amava, e eu estava feliz por isto. Materializá-la ou torná-la um elemental, é torturar-lhe o ser. Não concordo com as tuas viagens transcendentais para abafar tudo que te aflige. Deixa-a livre, pois uma nova vida a espera. O lado bom disto tudo, é que ela te devolveu a inspiração que há muito tempo havias perdido. Sou a favor de materializá-la nos versos, somente. Acredito no teu sentimento, pois sei que jamais mentirias para mim. Deves estar achando o meu discurso bastante frio, se estiveres, tens toda a razão. Semelhante a ti, também não fui agraciado com a sorte no amor- até hoje não me esqueço da minha grande paixão... Charlotte! Portanto aqui estou, ganhando a vida amando todas ao mesmo tempo a fim de esquecê-la mais rápido. Estou voltando para Paris na próxima semana, uma cliente me espera por lá. Ainda façoII os meus trabalhos de arquitetura... mas, para um homem vaidoso como eu, é impossível quitar todas as minhas dividas com estes. Preciso te ver Aischylos, pois tenho algo para te entregar. Algo que agora não mais me pertence e sim a ti. Tu, amigo, seria o único cunhado que eu aceitaria ter.