sexta-feira, 29 de junho de 2007

Carta a Valentine

III

Uma fatalidade- é tudo que posso dizer!... Ela era para nós única... a expressão exata daquilo que chamamos Belo! Um ser irrepreensível que certamente, tem nos céus um lugar insigne! Meus versos- se há algum valor neles- celebrarão a sua excelsa figura; pois, tens razão, amigo: não é tempo de lamúrias- ela agora está segura nas mãos do Altíssimo, qual glorioso diadema- devemos sentir saudades! Nossas lágrimas- embora nos tragam algum refrigério-, ao invés de lhe regarem a alma com saudosos afetos, só a inundam de agônicos pesares! Deixemo-la em paz; assim também quer e deve ela nos ver... sempre। Seu martírio acabou quando ela suspirou em teus braços... onde ela achou lenitivo, onde encontrei meu amparo!... Eu sei, todavia, que neles agora repousa, infelizmente, uma criatura austera- de baixa reputação talvez-, cujo senso não é capaz sequer de avaliar o gozo inefável que sente, dando-te um mísero níquel por cada hora servida! Oh, isto não é viver, Valentine! Viver seria afogar no doce vinho a hostilidade daquela que te faz morrer, por não querer-te; mas, aí te inebriares nos contornos sutis de uma qualquer para tão-somente esqueceres a rispidez de tua amada! Não seria isto insano... e volúvel? Não quero provocar-te à ira, quero apenas te dar uma luz; pois, creio que este amor te inclina, cegamente, a um abismo escuro e sem fim- a única causa dos teus constantes pesadelos! Não penso que sejas frio, não; muito pelo contrário... penso o que sempre pensei de ti... que tu és meu amigo, que és meu irmão! Ver-nos-emos ? Quando? Bom é saber que levas contigo alguns regalos: tu bem sabes como me recobrar o ânimo... Tanto quanto me sabes deixar cem palavras!... Adeus, meu caro amigo! Que a distância não seja para nós um estorvo perene.

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